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Projeto CavAlMar - Quantos são e onde vivem os cavalos-marinhos de Almada?

Cavalo-marinho-de-focinho-comprido (Hippocampus guttulatus), foto de Sylvie Dias
Cavalo-marinho-de-focinho-comprido (Hippocampus guttulatus), foto de Sylvie Dias

A frente ribeirinha do concelho de Almada – um ecossistema rico e frágil

O estuário do Tejo constitui um ecossistema de alta produtividade, tanto ao nível da riqueza e diversidade de espécies, como da abundância de organismos, prestando um conjunto de serviços ambientais de valor inestimável a nível local e regional, que importa compreender e salvaguardar.

A vulnerabilidade ambiental da Frente Ribeirinha Norte do concelho de Almada, que se estende por 10 km entre a Cova do Vapor e Cacilhas, aliada à relevância das atividades socioeconómicas locais, como a pesca, tornam fundamental a existência de informação detalhada sobre as modificações sentidas nas comunidades piscícolas desta região.

A existência de comunidades de cavalos-marinhos no estuário do Tejo é um fato bem conhecido há algum tempo, mas só em anos recentes foi identificado, na baía da Trafaria, um importante núcleo populacional destas espécies. Esta descoberta inesperada veio sugerir que, muito provavelmente, estes peixes peculiares também poderão ocorrer noutros locais da frente ribeirinha de Almada.

 

Os cavalos-marinhos – peixes peculiares e protegidos

Os cavalos-marinhos (Hippocampus spp.) são peixes carismáticos e icónicos, na sua maioria protegidos, que vivem em zonas pouco profundas de alguns dos habitats marinhos mais vulneráveis em todo o mundo. Vivem tipicamente em zonas costeiras, onde ocorre maior impacte de atividades humanas, sendo por isso muito afetados pela poluição e perda de habitat.

O reconhecimento internacional destes fatores de ameaça, e seu impacto negativo nas populações de cavalos-marinhos, levou à implementação de medidas de mitigação, entre as quais se destaca a inclusão destas espécies na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), na Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção (CITES) e na Convenção de Berna.

 

São proibidos por lei a captura, abate, detenção, comércio ou transporte de cavalos-marinhos ou marinhas, bem como a destruição dos seus habitats ou a perturbação das suas populações (Decreto-Lei 38/2021).

 

Cavalos-marinhos de Almada: da Cova do Vapor ao Alfeite

Em Portugal, existem duas espécies de cavalos-marinhos, o cavalo-marinho-de-focinho- comprido (Hippocampus guttulatus) e o cavalo-marinho-comum (Hippocampus hippocampus), sendo as populações da Ria Formosa as mais estudadas. Estas duas espécies ocorrem também ao longo de toda a frente ribeirinha do Concelho de Almada, tendo as principais populações na zona do Olho de Boi e na baía da Trafaria.

Na última década, a abundância de cavalos-marinhos sofreu uma redução na ordem dos 90 %, devido sobretudo a pressões causadas pela atividade humana. Tendo em conta que ambas as espécies estão classificadas na lista vermelha da UICN com o estatuto de conservação “Dados Insuficientes”, é urgente proceder à recolha de informação noutros locais da sua distribuição geográfica, de modo a aumentar o conhecimento destas espécies e contribuir para a atualização desta classificação.

As marinhas-comuns (Syngnathus acus) são peixes da mesma família dos cavalos-marinhos (Syngnathidae), que se distinguem destes pela morfologia alongada e locomoção na horizontal. Distribuem-se também por toda a frente ribeirinha de Almada, tendo na baía da Trafaria uma das populações mais importantes no concelho.

Em 2019, foi descoberto na baía da Trafaria um importante núcleo populacional de cavalos-marinhos, o qual se encontrava seriamente ameaçado pela derrocada dos pontões que lhes servem de habitat. A pressão que se fez sentir no imediato sobre essas populações tornou premente melhorar o conhecimento sobre a sua distribuição geográfica, tamanho da população, caracterização do habitat, estado de conservação e ameaças que enfrentam, entre outros aspetos ecologicamente relevantes para a conservação destas espécies.

 

Projeto CavAlMar – inventariar, sensibilizar e proteger

Em face desta situação de ameaça imediata, considerou-se da maior relevância proceder ao levantamento e monitorização ecológica da situação na Frente Ribeirinha Norte, para assim conhecer a qualidade ambiental deste ecossistema, bem como a dimensão do alcance e magnitude das pressões a que está sujeita a população de cavalos-marinhos.

O projeto CavAlMar surgiu para colmatar esta necessidade, resultando de um protocolo estabelecido entre a Câmara Municipal de Almada e o MARE-ISPA (Centro de Ciências do Mar e do Ambiente do Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida), um grupo de investigação com larga experiência nesta área, que realizou uma campanha de mergulhos ao longo da frente ribeirinha.

Este projeto científico teve como objetivos:

  • Efetuar o levantamento populacional das populações de cavalos-marinhos e outros singnatídeos, e caracterizar o habitat onde ocorrem na frente ribeirinha do município de Almada, incluindo a identificação de locais adequados para eventuais relocalizações de animais destas espécies;
  • Identificar, caracterizar e mapear as ameaças, riscos e oportunidades para a biodiversidade na frente ribeirinha norte;
  • Sensibilizar os diferentes atores locais para a necessidade de conservação destes peixes e dos seus habitats;
  • Discutir e delinear um plano de ação para a mitigação de ameaças, e planear um eventual projeto de restauro de habitat no futuro.

Para além do desenvolvimento e implementação de medidas de proteção dos diversos recursos marinhos, os resultados deste projeto pretendem constituir um contributo para o bem-estar e qualidade de vida da população de Almada, designadamente na utilização sustentável dos recursos biológicos, na promoção da segurança alimentar e no desenvolvimento da Economia do Mar. Os resultados obtidos serão também relevantes para aumentar o conhecimento e melhorar a divulgação do importante património natural ribeirinho do Concelho de Almada, contribuindo de forma estruturante para a gestão ambiental integrada do município.

 

Resumo dos resultados do Projeto CavALMar:

  • Realizaram-se 86 mergulhos em 13 locais distintos da frente ribeirinha de Almada (desde a Cova do Vapor ao Alfeite)
  • Entre Setembro de 2022 e Julho de 2023, foram registados mais de 60 exemplares de cavalos-marinhos e de marinhas
  • A baía da Trafaria, onde ocorrem 3 espécies, tem uma das maiores densidades conhecidas (mais até que na Ria Formosa)
  • Os cavalos-marinhos da Trafaria, em particular, têm dimensões acima da média conhecida para estas espécies
  • A sobrevivência das populações de Almada está ameaçada por diversos fatores (degradação do habitat, lixo marinho, etc.)

 

Principais ameaças identificadas na Frente Ribeirinha de Almada:

  • Fragmentação e perda de habitat
  • Dragagens
  • Poluição
  • Introdução de espécies exóticas
  • Pesca excessiva
  • Exploração ilegal dos recursos

 

Urgente implementar medidas de mitigação, tais como: remoção do lixo, restauro do habitat, criação de áreas de proteção, promoção de programas de educação ambiental, etc.

 

Resgate de cavalos-marinhos e marinhas: uma operação bem sucedida

Na sequência do colapso de um pontão artificial no porto de pesca em 2022, foram resgatados da baía da Trafaria 23 cavalos-marinhos e 5 marinhas, que foram temporariamente alojados e mantidos no Oceanário de Lisboa em condições semelhantes ao meio natural. Um ano depois, após restauro do habitat, todos os indivíduos foram devolvidos à natureza, incluindo mais de 100 marinhas que, entretanto, se reproduziram em cativeiro.

 

 

O que fazer se encontrar um cavalo-marinho?

  • Aproveite esta feliz ocasião apenas para observar este fantástico animal
  • Evite tocar-lhe e não o tire da água, uma vez que são peixes muito sensíveis
  • No caso de indivíduos capturados acidentalmente, devolva-os imediatamente à água sem mais manuseio
  • Se tirar fotografias, tente fazê-lo com uma escala, mas lembre-se de não usar flash

 

Partilhe connosco a sua observação!

Registe a sua observação no portal de ciência cidadã BioDiversity4All ou envie para o e-mail projeto.cavalmar@gmail.com, incluindo local do achado e, se possível, fotografias do animal.

 

Ajude a conhecer melhor a distribuição dos cavalos-marinhos em Portugal e contribua para a sua proteção!